Como se comportam as mulheres em países com maior igualdade de gêneros?

Homens e mulheres têm comportamentos diferentes quando pensamos, por exemplo, em ações altruístas ou egoístas. Entretanto, não devemos achar que isso é totalmente explicado por fatores biológicos inatos ou componentes socioculturais. Parece que a combinação dos dois é o mais provável.


Em países ricos, com menor diferença de oportunidades entre os gêneros, poderíamos esperar que as mulheres fizessem escolhas mais parecidas com as que tradicionalmente são associadas aos homens. Um estudo recém-publicado pela revista Science mostrou que as coisas não são bem assim.

Pesquisadores das Universidades de Bonn na Alemanha e da Califórnia nos EUA estudaram essa questão entre mais de 80 mil voluntários em 76 países e apontaram que as similaridades de escolhas entre os gêneros são menores em países ricos e com maior igualdade de gênero. Poderíamos explicar esse efeito pelo fato que, com mais oportunidades, homens e mulheres têm maior tendência em fazer “o que estão a fim”, com maior liberdade de escolha. As mulheres nesse cenário não se sentiriam pressionadas a tomar decisões que não condizem com suas crenças.

O estudo investigou como os voluntários responderiam a cenários envolvendo seis diferentes questões: 1) comportamento de risco; 2) paciência; 3) altruísmo; 4) confiança; 5) reciprocidade positiva; 6) reciprocidade negativa. Os resultados mostraram que foram maiores as diferenças das repostas entre os gêneros em países mais ricos e com maior igualdade de gênero.

Isso me fez lembrar uma pesquisa publicada pela Nature Human Behavior que mostrou que o processamento de comportamentos altruístas e egoístas é diferente entre os gêneros.  Ações altruístas estimulam nas mulheres os sistemas de recompensa cerebral de forma mais robusta. Já os homens têm esses sistemas fortemente ativos quando as ações são egoístas. E a pesquisa foi além desses achados. Quando as mulheres recebiam uma droga que deixava esses centros meio adormecidos, por inibirem a ação da dopamina, elas passavam a se comportar de forma mais egoísta. E, surpreendentemente, o contrário aconteceu com os homens. Após o bloqueio da ação da dopamina, eles se tornaram mais generosos.

É importante frisar que esses resultados não nos dizem que essas diferenças são inatas. Isso pode ser decorrente do aprendizado durante a vida, das expectativas diferentes para homens e mulheres. As mulheres desde a infância podem receber mais feedbacks positivos quando agem de forma altruísta. Isso também pode ocorrer com ações egoístas no caso dos homens. E esse mesmo raciocínio é válido para os resultados da publicação da revista Science. Não é razoável reduzir o entendimento das diferenças somente por componentes biológicos. É difícil pensar que a cultura não tenha sua influência.

 

 

Confira o áudio da coluna Cuca Legal, uma parceria do ICB com a Rádio CBN Brasília:

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