Você costuma sonhar acordado? Sem preconceitos. Isso pode ser muito bom!

Nossa mente gosta de dar umas voltinhas, pensamentos espontâneos que muitos encaram como a contramão da eficiência. Mas não é bem assim. Esse sonhar acordado pode ser bem interessante para alguns domínios cognitivos, como é o caso da memória e criatividade.


Pensamos em ter uma mente produtiva, afiada, atenta, e a ideia de fugir da realidade, mesmo que por um pequeno espaço de tempo, pode parecer contraproducente.  Como será possível conciliar o vagar dos pensamentos com toda essas expectativas?
 
Uma pesquisa recém-publicada pelo periódico Psychological Science joga uma boa luz nessa questão e faz a gente refletir que esse estado de sonhar acordado pode muitas vezes ser um aliado do nosso desempenho cognitivo, incrementando, por exemplo, nossa criatividade.  
 
Esse estudo acompanhou por uma semana quase 300 estudantes do ensino médio que eram interrogados 8 vezes ao dia se estavam ou não com pensamentos em outras coisas que não estivessem ligadas ao que estavam fazendo num determinado momento. Essa abordagem foi feita inicialmente em laboratório e em outro momento na vida real.
 
Os resultados mostraram que em em 30% das situações os estudantes estavam com a mente em “outras coisas” e isso foi mais frequente na vivência de laboratório, talvez por ser uma experiência pouco estimulante. A variação entre eles não foi pequena, sendo que em um dos voluntários, o pensamento estava em outro lugar em 97% das situações em que foi testado!
 
O principal conteúdo desses escapes mentais diziam respeito a fantasias, problemas e preocupações, tarefas a serem cumpridas e experiências visuais e sonoras do ambiente. Na maioria das vezes, os estudantes estavam com parte da mente conectada às atividades que estavam fazendo.  Nos testes de laboratório, aqueles que tinham melhor capacidade de atenção e os que eram menos ansiosos também sonhavam menos acordados. Parece óbvio? O mais interessante da pesquisa foi a demonstração que no mundo real as coisas foram diferentes.
 
No dia a dia fora do laboratório, os estudantes que tinham piores habilidades executivas e de atenção não apresentaram mais desses escapes. Quando estavam tentando se concentrar, aqueles com melhores desempenhos de atenção ficavam mais ligados na tarefa. Entretanto, quando não estavam forçando a concentração, estes com ótima atenção sonhavam acordados mais frequentemente que os outros. O fator que estava mais ligado à frequência com que os estudantes ficavam vagando com suas mentes foi a capacidade de estar aberto a novas experiências o que refletia uma maior tendência a conteúdos fantásticos. E isso pode ser um grande parceiro da criatividade.
Isso tudo nos faz pensar que um cérebro com boa atenção e processamento rápido é importante, mas as fugidinhas do pensamento podem também ser muito interessantes, especialmente para a criação e consolidação da memória. E o que seria do nosso equilíbrio mental sem boas doses de fantasia?

 

Confira o áudio da coluna Cuca Legal, uma parceria do ICB com a Rádio CBN Brasília:

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